Múltiplos saques históricos da poupança, governo cada vez menos representativo no fomento ao crédito, custos operacionais elevados. Estaria o Brasil se aproximando do fim do dinheiro barato no Brasil ?
Seja você empresário, produtor rural, atuante na construção civil, ou apenas tentando comprar um carro, com certeza se deparou com juros impossíveis de serem pagos. A questão é, porquê ?
A situação é tão séria, que chegou a ser “debatida” nas redes sociais por pessoas de todas as classes sociais, tanto as com acesso ao crédito, como as que não tem. O tema da discussão tem sido o Banco Central (BACEN) como principal causa dos juros altos. Sabemos que o BACEN apenas responde a outros fatores macro econômicos, e sozinho não vai conseguir baixar os custos dos juros.
E, na verdade, o grande desafio é a concentração do crédito no Brasil em poucos bancos. Este é o maior problema a ser combatido. Atualmente 80% de todo o crédito comercializado no Brasil, isto é, a cada 100 empréstimos, 80 deles, são feitos pelos 5 maiores bancos do Brasil. Em outras palavras, a falta da diversificação bancária criou no Brasil um tipo de “lobby” que favorece aqueles que já possuem a maior parcela do crédito no mercado. Vejamos como os principais bancos do país atuam.
O que faz uma taxa de 4% ao ano chegar em, pasmem, quase 20% ao ano ? Na prática é a venda casada, como essa prática é ilegal, os bancos carinhosamente apelidaram de “reciprocidade”. E tudo isso é sistematizado através de um sistema de avaliação chamado “rating”. Talvez você se pergunte, o que é isso ? O rating significa, em uma tradução livre, pontuação. Pontuação essa individual que representa o quanto você é interessante para o seu banco, é uma pontuação que vai da pontuação mais alta sendo a letra A, até a mais baixa, sendo a letra E, ou seja. Clientes com rating, D e E praticamente não conseguem nenhum tipo de linha de crédito, clientes com letras de C até a letra A tem mais facilidade de conseguir recursos. Além disso, quanto maior for a pontuação, melhores são as condições, mais crédito você consegue, e maior o limite que você já tem aprovado.
Então, como aumentar essa pontuação ? É justamente aqui que está o problema que torna o empréstimo caro. Você precisa adquirir produtos do próprio banco, como por exemplo: Seguro de vida, previdência privada, consórcio, títulos de capitalização em geral. Além disso, tem os itens que o próprio BNDES exige, o projeto técnico que é necessário nessa análise, impostos e taxas como o IOF mais alguma taxa do próprio banco, dentre outros. Somando todos estes custos envolvidos na operação, os valores sobem muito!
Não vamos entrar no mérito aqui se esses produtos são bons ou ruins, até porque, todos eles podem fazer sentido dentro de um planejamento financeiro, mas quando eles se tornam “exigências” para liberação do crédito, isso vira um problema para os produtores, pois tudo isso impacta no custo da operação dele!
O exemplo citado foi de uma linha de crédito subsidiada para o agronegócio, mas essa mesma lógica se aplica ao mercado imobiliário, industrial, e inclusive crédito corporativo seja para atacado ou varejo. Enfim, para tudo, o crédito se tornou demasiado caro.
A boa notícia é que existem alternativas, lembrando que existem 150 instituições financeiras registradas no BACEN como bancos. Além disso, temos as alternativas de consórcios, mercado de capitais através dos fundos de investimentos, e as cooperativas de crédito, crédito internacional, dentre outras modalidades de fomento de crédito.
Infelizmente estas alternativas são subutilizadas, isso gera um problema sério para a população, pois na falta de competitividade, os bancos se aproveitam dessa situação para definir os critérios da liberação de recursos e do custo dessas operações. Para se ter uma ideia, nem as taxas subsidias são baratas na verdade. Por exemplo, o PRONAF, que é uma linha voltada para pequenos produtores rurais, tem taxas anunciadas à partir de 4% ao ano. Ou seja, muito em conta e exatamente o que o pequeno produtor precisa. Infelizmente, na prática, a coisa é outra.
Na realidade, o brasileiro em geral tem dificuldade de lembrar mais do que 3 nomes de bancos. A primeira barreira para mudarmos essa situação é: a informação. Através de educação financeira podemos levar mais conhecimento de diversas alternativas. Isso vai ajudar a criar uma competição entre as instituições e desta forma essas instituições vão diminuir os custos das operações, e o seu spread, para atrair mais clientes.